O Grupo de Pesquisa Crescimento de Cristais e Materiais Cerâmicos (CCMC), além de sua ampla infraestrutura de pesquisa em ciência e tecnologia dos materiais, conta também desde o ano 2000 com uma área de investigação a qual dedica-se ao Estudo e Difusão de Ciências.
A iniciativa surgiu coordenada pelo Prof. Antonio Carlos Hernandes, docente do CCMC (atual coordenador de difusão científica do CDMF (Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais – CEPID/FAPESP) como uma ação vinculada a outro CEPID, iniciado em 2000, o Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC/CEPID/FAPESP), do qual era também coordenador de difusão científica.
Estas atividades e pesquisas em divulgação científica ocorrem até hoje no Laboratório criado no CCMC como uma das iniciativas de Divulgação Científica dos dois CEPIDs: o Laboratório de Difusão Científica, (LaDiC) do CCMC, coordenado em conjunto com a Professora Ariane Baffa Lourenço, atualmente, docente da Universidade Federal da Grande Dourados, MS, mas que atua na coordenação do Laboratório, em parceria com o Prof. Hernandes desde 2004.
Um dos objetivos primordiais do LaDiC é colaborar para a formação de recursos humanos que possam ser multiplicadores de iniciativas de divulgação científica em suas carreiras posteriores, reconhecendo a importância de aproximar a ciência e a pesquisa desenvolvida na Universidade para o público em geral. Iniciaremos, então, uma série de depoimentos relatando os percursos que seguiram ex-alunos que atuaram no Laboratório de Difusão Científica do CCMC, compartilhando suas visões sobre o papel da Divulgação Científica para a sociedade e para a carreira de um pesquisador.
Iniciaremos com a Mestre em Ciências Físicas e Biomoleculares Ilaiáli Souza Leite, que desenvolveu Iniciação Científica no LaDiC de 2009 a 2012.
Ilaiáli e sua atual posição
Ilaiáli é formada em Ciências Físicas e Biomoleculares pelo IFSC/USP e concluiu seu mestrado na última semana no Laboratório de Biofotônica do Grupo de Óptica do IFSC. Seu trabalho consistiu na utilização de terapia fotodinâmica – uma técnica que consiste na associação de luz de um comprimento de onda específico, uma substância fotoativa chamada de fotossensibilizador e oxigênio molecular no alvo terapêutico. Estudou, durante o mestrado, a eficácia da técnica na inativação de uma bactéria comumente responsável pelo quadro de pneumonia em estudos in vitro, e avaliou a interação da terapia com macrófagos, células do sistema imune.
Os primeiros passos no LaDiC e o interesse pela divulgação da ciência
A pesquisadora iniciou sua atuação no LaDiC-CCMC no ano de 2009, sendo atraída pelo projeto de difusão científica ativo no laboratório à epoca, que consistia no ensino de conceitos de Eletrostática e Eletrodinâmica a alunos de terceiro ano de uma escola pública e na aplicação desses conceitos na confecção de uma placa com um circuito desenvolvido pelos estudantes para exemplificar o que foi aprendido. Além disso, foram utilizados Mapas Conceituais para avaliar a aprendizagem e reestruturar as aulas, de modo a adequar a abordagem dos temas com as deficiências e concepções dos alunos. “Essa característica do grupo, de devolver para a sociedade parte do que é investido na universidade, foi essencial para a minha permanência no laboratório e na minha formação como pesquisadora e pessoa”, explicou.
Outros trabalhos desenvolvidos no LaDiC
Ilaiáli foi além da execução do projeto relatado acima, que tinha como foco o ensino de conceitos de Eletrostática e Eletrodinâmica para alunos do Ensino Médio. Nos demais anos em que trabalhou no LaDiC esteve envolvida na criação de um minicurso sobre vidros e materiais vítreos (uma das áreas de pesquisa do CCMC), que lhe rendeu o convite para ministrar o curso em Minas Gerais e também colaborou no desenvolvimento de um minicurso sobre nanotecnologia. Todos estes cursos, foram ministrados em escolas da rede pública e particular do Estado de São Paulo (São Carlos e região) e também Minas Gerais. “Ao último minicurso, avaliamos o uso do método de aprendizagem cooperativa Jigsaw aplicando um texto de divulgação científica. Foi bastante interessante ver, ao longo dos anos que passei lá, como as diferentes metodologias de ensino auxiliam a aprendizagem dos alunos, e como uma aula que escapa do lugar comum pode atrair muito mais a atenção deles.” A metodologia Jigsaw, mencionada por Ilaiáli, rendeu-lhe uma menção honrosa em 2012 quando apresentou o resultado deste trabalho no SIICUSP.
A divulgação científica e suas dificuldades na carreira de um pesquisador
Ilaiáli avalia que a divulgação científica, ainda enfrenta dificuldades dentro do próprio ambiente acadêmico, aumentando a distância entre a universidade e a sociedade, ao invés de estreitá-la. Em sua visão, este é um desafio a ser superado por programas de difusão da ciência sistematizados dentro dos próprios grupos de pesquisa, como ocorre no CCMC. A pesquisadora observa: “Infelizmente nas Universidades nós temos uma elevada cobrança pela produção científica, causando esse panorama divisor do ambiente acadêmico e o da sociedade. Desse modo, muito do que é feito aqui acaba não chegando à população geral ou, quando chega, muitas vezes não é conhecido o fato de que aquela tecnologia foi desenvolvida em laboratórios de Universidades. É importante realizar ações como ministrar minicursos que exponham o ambiente em que vivemos assim como passem parte do que estudamos para alunos do Ensino Fundamental e Médio, para aguçar a curiosidade e impulsionar a busca pelo Ensino Superior. O que é justamente o que o LaDiC faz, atuando não somente na cidade de São Carlos mas também na região, sempre com enfoque no ensino público.”
A responsabilidade do pesquisador em divulgar a ciência na visão de Ila
“A Divulgação Científica é muito importante pois, ao mesmo tempo que você expõe para a sociedade o que está sendo desenvolvido nas Universidades Públicas com a verba de impostos, você acaba incentivando e atraindo cada vez mais alunos para o ambiente de Ensino Superior, especialmente aqueles de escolas públicas, que muitas vezes não consideram realizar uma graduação por não terem conhecimento desse universo todo. O meu período do LaDiC fez com que eu aprendesse e vivenciasse a importância de receber esses alunos na Universidade, uma atividade recorrente no grupo, e apresentar o que é desenvolvido aqui. Além disso, de passar para esses jovens que é sim possível, com dedicação, entrar em uma Universidade Pública e que essa experiência de vida só resulta em porta abertas no futuro deles.”
A experiência no LaDiC na carreira de pesquisadora
Ilaiáli declarou nesta entrevista, como o período em que estagiou no LaDiC fez a diferença para sua carreira posterior como pesquisadora, preparando-a para dar sequência, além de suas novas pesquisas, no compromisso de divulgar o conhecimento gerado na Universidade: “Uma característica minha sempre foi precisar ver que o que eu faço pode ser aplicado e que isso vai trazer benefícios a pessoas. O período no LaDiC, com dois excelentes pesquisadores, não só me reforçou isso como me trouxe um crescimento pessoal enorme no âmbito da pesquisa, na preparação de textos científicos e de aulas e também no âmbito pessoal. Escolhi minha área de pesquisa querendo ajudar pessoas, e os frutos que colho hoje são resultado de tudo o que aprendi no LaDiC, de dedicação ao trabalho e sempre tentar devolver para a sociedade o investimento dela em mim. Hoje em dia faço questão de participar de feiras e eventos de Difusão Científica, algo que é extremamente prazeroso para mim por ter aprendido, nos tempos de minicurso, o quão importante é você instigar a curiosidade de jovens para o meio acadêmico, ou ver a satisfação da população ao ver os benefícios que são resultado de anos de pesquisa nas Universidades”, concluiu.
Produtos gerados durante o período em que esteve no LaDiC
Minicursos:
Vidros e Materiais Vítreos
Nanociência e Nanotecnologia
Menção Honrosa:
20o. SIICUSP (2012)
O uso do método cooperativo de aprendizagem Jigsaw na avaliação de um minicurso sobre nanotecnologia.
Artigos Científicos:
O uso de mapas conceituais para avaliar a mudança conceitual de alunos do Ensino Médio sobre o tema corrente elétrica: Um estudo de caso – Lat. Am. J. Phys. Educ. Vol. 5, No. 3, Sept. 2011
Uso do método cooperativo de aprendizagem Jigsaw adaptado ao ensino de nanociência e nanotecnologia – Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 35, n. 4, 4504 (2013).