Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – De um lado uma indústria ávida por solucionar problemas internos com inovação e aumentar a produtividade. Do outro, pesquisadores com conhecimento científico e capacidade técnica. Juntar indústria e centros de pesquisa em parcerias duradouras tem como base a relação ganha-ganha.
O benefício da parceria entre indústria e universidade foi o tema da palestra realizada na Expomafe em 12 de maio de 2017 pelos professores Elson Longo e Ernesto Chaves Pereira, respectivamente diretor e coordenador de transferência de tecnologia do Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF), um CEPID da FAPESP.
“Ao reunir indústria e centro de pesquisa, todos saem ganhando. A indústria entra com a parte monetária e nós [universidade] com os recursos humanos. Antigamente, achava-se que quem trabalhasse com a indústria estava vendendo a universidade. Porém, provamos o contrário. Desde o começo, mostramos que para que houvesse o desenvolvimento do país e da universidade era preciso que a indústria utilizasse o conhecimento acadêmico”, disse Longo.
Para ficar em apenas um exemplo dos benefícios financeiros e tecnológicos dessa cooperação, a longa parceria entre a CDMF e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) gera ganhos econômicos para o centro de pesquisa de R$ 100 milhões por ano. Desde 1995, quando iniciou a parceria, foram 32 patentes criadas e 132 artigos científicos publicados.
Os ganhos para a indústria também são enormes. Os centros de pesquisa têm capacidade de analisar e resolver problemas que baixam a produtividade, desenvolvendo soluções inovadoras a partir de pesquisa e conhecimento científico.
“Brinco que fazemos o papel de bombeiros ao extinguir alguns problemas das indústrias. Observo, no entanto, que muitas vezes a indústria não sabe onde estão os laboratórios nas universidades que podem contribuir para o desenvolvimento de pesquisas. Precisamos quebrar essa barreira entre esses dois mundos”, disse Pereira.
Muitas vezes, o trabalho dos pesquisadores está em desenvolver soluções simples tiradas de uma boa dose de observação. Pereira conta que, em uma ocasião, uma multinacional buscou o CDMF para solucionar um problema de retrabalho por corrosão de peças.
“Era um galpão enorme de peças armazenadas e a empresa tinha um prejuízo imenso. A solução que demos? Feche a porta e proteja as peças da sujeira. Com isso, a empresa deixou de gastar muito dinheiro”, disse Pereira.
A parceria com empresas como Dow Química, Petrobras e White Martins levou ao desenvolvimento de novos materiais. Para a White Martins, por exemplo, a equipe de pesquisadores desenvolveu um refratário que gerou um ganho econômico de R$ 32 milhões para a empresa em cinco anos e passou a ser usado por várias indústrias no mundo.
“A indústria de vidro sabia que poderia triplicar a produção se usasse uma atmosfera de oxigênio. Fizemos isso, desenvolvemos um novo refratário e a indústria em todo o mundo utiliza os refratários desenvolvidos no nosso laboratório”, disse Longo.
As parcerias também são firmadas com pequenas empresas ou polos manufatureiros. É o caso das empresas de cerâmica dos polos de Pedreira e Porto Ferreira, do interior do Estado de São Paulo. “Melhoramos o produto em resistência mecânica. Com isso adquirimos um conceito mais elevado de cerâmica para o polo”, disse Pereira.