Roupas prometem proteção contra coronavírus por preços de R$ 15 a R$ 330

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Roupas prometem proteção contra coronavírus por preços de R$ 15 a R$ 330

Daniele Madureira – Colaboração para o UOL, em São Paulo

A atriz Ingrid Guimarães arrancou gargalhadas quando apareceu na nova temporada do programa “Além da Conta” (GNT) vestida com um uniforme branco impermeável, máscara, luvas cirúrgicas e proteção facial (face shield), empunhando um spray de álcool para pulverizar tudo o que vê pela frente. Na temporada #Confinados, a atriz usou o humor para mostrar algumas das angústias da classe média nesse período, como o medo de contrair o novo coronavírus ao sair de casa.

Esse temor não passou despercebido pela indústria têxtil, que vem colocando nos sites de comércio eletrônico roupas e acessórios com a promessa de bloquear a ação do vírus. A onda começou com as máscaras faciais, item que se tornou obrigatório na tentativa de barrar a transmissão da covid-19. Mas hoje já são vendidos vestidos, camisetas, calças blusões e até capas de celular com a proteção antivírus. Os preços vão de R$ 14,90 a R$ 329,90.

Antiviral ou anti-covid-19?

Malwee, Live!, Líquido, Lupo e Track&Field são algumas das marcas que já colocaram à venda suas coleções antivírus. Mas aqui cabe uma ressalva: os itens comercializados por Líquido, Lupo e Track&Field usam como base o fio Amni Virus-Bac OFF, da Rhodia.

O fio têxtil de poliamida oferece proteção contra os vírus – mas não necessariamente contra o novo coronavírus. “Foram feitos testes com vírus da família do coronavírus, mas não com o covid-19”, diz Renato Boaventura, vice-presidente de poliamida e fibras da Rhodia, que pertence ao grupo belga Solvay.

O Amni Virus-Bac OFF bloqueia a contaminação cruzada entre o tecido e o usuário, evitando que a roupa transmita vírus e bactérias.

Proteção por 50 lavagens

A Malwee e a Live!, embora trabalhem com fornecedores diferentes, oferecem produtos semelhantes. As peças foram produzidas e testadas contra o novo coronavírus. A desvantagem é que a proteção não é para sempre: dura cerca de 50 lavagens domésticas, até que a proteção comece a diminuir gradualmente. As peças produzidas a partir do fio da Rhodia manteriam a proteção durante toda a vida útil do produto, segundo a empresa.

“Nosso parceiro para a produção da solução anti-covid é a suíça CHT, uma indústria química que desenvolveu uma solução que efetivamente mata o novo coronavírus. Não queremos induzir o consumidor a erro”, diz Patricia Calixto, gerente de marcas do grupo Malwee.

Segundo ela, a tecnologia usada pela CHT, a HeiQ Viroblock, é semelhante à da brasileira Nanox, uma startup sediada em São Carlos (SP), ligada à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), pioneira no desenvolvimento dessa tecnologia no Brasil.

“Nós começamos desenvolvendo os produtos com a CHT, mas nada impede que a Malwee se torne parceira da Nanox”, diz ela. Além do efeito antiviral, a tecnologia também promete combater bactérias e fungos. Isso significa que evita mau cheiro na roupa.

Lançamento de jeans e mais roupas

Em duas semanas, a Malwee vendeu 30 mil camisetas e 84 mil máscaras, nos tamanhos adulto e infantil. “Foi uma demanda muito superior à nossa expectativa”, diz Patrícia.

Até a metade de agosto, serão lançadas peças em jeans, sarja e manga longa, além do tamanho plus size. A estimativa é vender 1 milhão de peças até o fim do ano.

Do vestido à capa do celular

A fabricante de roupas esportivas Live! também voltou a ficar otimista com 2020. “Foram 23 dias intensos, até lançar a coleção em 10 de julho”, diz Joyce Sens, fundadora e diretora criativa da Live!, de Jaraguá do Sul (SC).

Da mesma cidade, a parceira Dalila Têxtil fabrica a malha que promete inibir a proliferação do novo coronavírus, uma tecnologia certificada pelo Instituto de Biologia da Universidade de Campinas (Unicamp).

A primeira coleção com a proteção vendeu quatro vezes mais do que o previsto – são calças, bermudas, camisetas, blusões, vestidos, máscaras e até capa para celular.

Dentro de dois meses, a Live! vai lançar uma nova coleção com proteção antiviral, desta fez com o fio Amni Virus-Bac OFF, da Rhodia.

“Queremos dar a opção para o cliente de uma roupa com proteção antiviral permanente, ainda que não tenha sido testada especificamente contra o novo coronavírus, como é o caso do fio da Rhodia”, diz Joyce.

Coleção esportiva da Lupo

A Lupo, que até agora só fabricou máscaras nos tamanhos adulto e infantil, também já tem pronta uma nova coleção esportiva com o fio da Rhodia.

“Ainda não lançamos, porque estamos concentrando toda a capacidade produtiva e matéria-prima nas máscaras, que são uma necessidade na retomada”, diz Carolina Pires, diretora de marketing, vendas e produto da Lupo.

Segundo ela, no começo da pandemia, a empresa previa queda de até 60% nas vendas em 2020 em relação a 2019. Mas a empresa agora espera uma perda menor, de 30%, tendo em vista uma pequena recuperação do varejo por itens básicos.

Além disso, a venda das máscaras surpreendeu. “Entre abril e junho, a Lupo vendeu 1,1 milhão de kits, cada um com duas máscaras”, diz.

As malhas e tecidos com proteção antiviral são construídos a partir do fio da Rhodia. “Por estar dentro do fio, a proteção não desgasta com a lavagem”, diz Boaventura, da Rhodia.

Para ele, mesmo com o aumento da produção do fio nos próximos meses para atender à procura crescente da indústria têxtil, o Amni Virus-Bac OFF vai continuar mantendo 30% das vendas da divisão de poliamida e fibras da Rhodia. “O mercado entendeu que é uma nova demanda, é uma proteção que veio para ficar”.

Lavar por quê?

A Santista Têxtil se tornou parceira da brasileira Nanox e acaba de lançar uma leva de tecidos -entre eles, sarja e jeans-, que recebem um tratamento com nanopartículas de prata, capazes de aderir aos fios.

A tecnologia, que foi testada pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), promete deixar o novo coronavírus inativo em até três minutos, com 99,8% de eficiência.

“O novo coronavírus é um ser muito, muito frágil, pode ser eliminado com facilidade. A sua força está na rapidez da transmissão”, diz Elson Longo da Silva, professor da pós-graduação do Instituto de Química e da pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Materiais da Universidade de São Paulo (Unesp).

Por isso é importante que a tecnologia presente nos tecidos mate o vírus. O acadêmico, que também é diretor do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF), ligado à Fapesp, acompanhou o desenvolvimento da tecnologia anti-covid da Nanox. “Essa tecnologia oxida o vírus”, afirma.

O especialista lembra ainda que existe a proteção fungicida e microbacteriana no tecido, o que impede odores. “Em tese, com esses atributos no tecido, nem seriam necessárias muitas lavagens”, afirma. “Mas é difícil mudar um hábito tão arraigado no brasileiro, de levar a roupa que usou”.

CDMF

O CDMF é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e recebe também investimento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a partir do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Materiais em Nanotecnologia (INCTMN).

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O Laboratório Aberto de Interatividade para Disseminação do Conhecimento Científico e Tecnológico (LAbI), vinculado à Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), é voltado à prática da divulgação científica pautada na interatividade; nas relações entre Ciência, Arte e Tecnologia.