Nanotecnologia ajuda na geração de renda no interior de SP com solução inovadora virucida para aplicação em tecidos no combate à pandemia

Muitas soluções em diversas áreas do conhecimento têm sido desenvolvidas em todo o mundo para promover a contenção da pandemia de Covid-19 e auxiliar para o final deste problema global que está marcando o ano de 2020 na história da humanidade.

O foco principal dos novos inventos é o desenvolvimento de produtos voltados para os tratamentos na área de saúde e prevenção. Há ótimos exemplos ao redor do mundo. No Brasil, essa necessidade acabou por unir centros de pesquisa, universidades, empresas de base tecnológica e outras que aparentemente não teriam muita relação com os problemas em questão.

Não teriam, mas acabaram envolvidas positivamente, uma vez que a pandemia afetou a economia e, consequentemente, a geração de renda para muitos setores e segmentos, entre eles o dos profissionais autônomos e microempresários. E este foi o caso da empresa Stampelle, de São Carlos (SP), que trabalhava com manufatura de artigos em couro. Com a produção parada desde o início do isolamento social na cidade, no final da primeira quinzena do mês de março, a artista plástica Marta Milanetti resolveu unir dois sentimentos: adaptar a produção para algo que mantivesse ao menos parte da renda e também contribuísse para ajudar efetivamente no controle da pandemia.

“A primeira ideia e que acabou sendo implementada foi a fabricação e venda, a preço de custo praticamente, de máscaras de tecido duplo em tricoline e entretela, como preconizado pelo Ministério da Saúde”, conta a empresária Marta. Com ajuda até mesmo de familiares as máscaras começaram a ter saída e a demanda pelo equipamento de proteção só aumentou desde então, com a empresa atendendo pedidos locais e também de vários estados brasileiros.

Com o tempo a fabricação de máscaras com essas características acabou se ampliando em todas as cidades brasileiras. Foi quando a artista plástica paulista recebeu no final do mês de junho um telefonema inusitado de uma tia brasileira que reside na cidade de Vila-Real, na Comunidade Valenciana, na Espanha.

“Ela relatou que há mais de dez anos o marido, o pesquisador espanhol Juan Andrés Bort, da Universitat Jaume I (UJI), havia desenvolvido um trabalho para aplicação de micropartículas com ação antiviral e fungicida. E que de uma antiga parceria com o Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais, o CDMF (ligado à Fapesp), dirigido pelo pesquisador Elson Longo, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), saía uma ótima notícia naquele momento: as micropartículas poderiam inviabilizar o vírus SarsCoV-2, responsável pela pandemia, quando aplicado em diferentes materiais, entre eles tecidos”, lembra Marta.

E como se não bastassem as sincronicidades, o tio espanhol é amigo do professor Longo, que foi o orientador do doutorado de Gustavo Simões, um dos sócios-proprietários da empresa de nanotecnologia Nanox Tecnologia S/A, também sediada em São Carlos, e que detém a patente da tecnologia que pode ser aplicada em diversos materiais, entre eles as máscaras de tecido. A partir dessa conversa, explica a empresária, só foi trocar os contatos para que a produção da Stampelle agregasse aos tecidos, em primeira mão no país, e por meio da Nanox, a solução virucida, fungicida e antibacteriana.

Mas e o que isso tem a ver com a geração de renda no interior da cidade paulista? “Bom, até então eu trabalhava apenas com um amigo empresário do ramo técnico e logístico de costura, além de terceirizados como serviço de entrega locais e os Correios. Conversamos e entendemos que precisaríamos agregar mais profissionais, pois a demanda iria ‘explodir’ com a novidade eficiente na prevenção da Covid-19. Foi então que começamos a contatar costureiras e outras artesãs. A equipe acabou triplicando e estas pessoas, que também foram afetadas economicamente pela pandemia, puderam, como eu, receber novo incremento de renda e trabalho pontual. E claro, até para a empresa de nanotecnologia, novos clientes surgiram, incluindo alguns gigantes do setor têxtil e que desdobraram a solução para outros produtos também”, detalha Marta.

Solange Bis, que trabalhava com artesanato e costura criativa, fala de como se integrou à equipe: “Veio o convite para a confecção das máscaras virucidas para a Stampelle e fui informada sobre o aditivo; fiquei cada vez mais interessada em fazer parte desse grupo de pessoas dedicadas na luta contra a Covid-19. Além do mais, tenho pessoas do grupo de risco dentro da minha casa. E como é impossível o isolamento social total, penso que é de extrema importância usar um produto eficaz, nos protegendo e ainda inviabilizando o vírus. Assim, diminui a propagação da doença. Este trabalho, além da ajuda financeira, me trouxe uma satisfação em poder contribuir de alguma forma no combate à pandemia. Juntos somos mais fortes!”, ressalta Solange.

A empresária Marta Milanetti acrescentou no mês de julho à produção de máscaras outros produtos com tecido virucida como jalecos para profissionais de saúde, além de dólmãs para funcionários de restaurantes e até mesmo jaquetas que podem ser usadas por qualquer pessoa assim como as máscaras. Ela informa que terá em breve produtos para a rede hoteleira. “Hoje, formamos uma família na empresa e faço questão de citar os nomes do Donizetti De Falco, Solange Bis, Margarete Aparecida Botelho Blanco, Lucineide De Falco e Michelle Maria David Curilla. Todos trabalham com muita garra e dedicação e temos recebido muitos feedbacks positivos dos produtos de São Carlos e de várias regiões do país”, se emociona Marta.

Os testes da Nanox feitos com o próprio vírus SarsCov-2 indicam que a aplicação da solução nanotecnológica nos tecidos garantem proteção por até dois anos ou, no mínimo, 50 lavagens. Ao ter contato com o tecido, os diferentes patógenos (vírus, bactérias e fungos) ficam inativados em até dois minutos. A máscara, se mantida seca e os cuidados de uso e manutenção forem observados, não precisa de lavagem diária ou ser trocada a cada três horas como as tradicionais.

CDMF

O CDMF é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e recebe também investimento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a partir do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Materiais em Nanotecnologia (INCTMN).

*com informações da assessoria de imprensa da Stampelle

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