Ao se destinar ao interior do estado de São Paulo, é possível se deparar com um imenso “mar de cana”, estendendo-se por quase seis milhões de hectares, e em meio a esse cenário ainda é possível perceber as grandes fazendas produtoras de laranja e café. São Paulo é um território mundialmente conhecido pela produção de tais commodities, e isso se deve, principalmente, aos recursos naturais abundantes – terra, água, clima -, emprego de tecnologias avançadas, apoio institucional e desenvolvimento científico. No entanto, a imagem de homens e mulheres trabalhando nos campos pouco será vista por quem cruza despretensiosamente essa área, são as gigantescas máquinas que se sobressaltam ao longo dos hectares.
Durante as últimas sete décadas, milhares de pessoas, negras e pardas, provenientes dos estados do nordeste e do norte de Minas Gerais labutaram nas terras paulistas, produzindo sua história laboral, cuja face está sendo apagada. Na contramão deste apagamento, nasceu a ideia do repositório Vozes e Memórias, cujo objetivo é reconstruir o passado, desdobrando-o e trazendo-o ao presente, por meio das vozes silenciadas e das memórias ocultadas.
O repositório é um riquíssimo acervo constituído de cerca de mil horas de entrevistas gravadas com homens e mulheres em vários “sertões” do país, nas grandes plantações em São Paulo e também nos sítios e assentamentos. As entrevistas foram realizadas no período de 1983-2017 e ao longo desse percurso, arquivos de imagens, texto, vídeo e áudio foram arquivados, catalogados e agora estão todos disponíveis no site do “Vozes e Memórias”. Através deste trabalho, o repositório busca evitar o processo de memoricídio e, desta forma, revelar e evidenciar as experiências das vidas talhadas com as mãos nos campos paulistas.
A iniciativa conta com a coordenação da professora Maria Aparecida Moraes Silva, que atualmente é Livre Docente da Universidade do Estado de São Paulo (UNESP), do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de São Carlos (PPGS – UFSCar) e pesquisadora do CNPq, onde tem desenvolvido um complexo trabalho de pesquisa voltado para os trabalhadores rurais. O trabalho de digitalização e edição do material disponível foi realizado por Tainá Reis, docente substituta da Universidade Federal da Bahia (UFBA). O desenvolvimento do site do repositório foi feito pelo Dr. Leandro D’Agostino, diretor executivo da Aptor Software.