O estuário localizado na cidade de Santos, estado de São Paulo, se define por ser um ambiente de transição entre a terra e o mar, entre as águas doce e salgada. Ao longo dos anos, este perímetro se tornou uma área totalmente contaminada, o que proporcionou o seu uso como modelo para o estudo que investiga a possibilidade da aplicação de conchas de moluscos gastrópodes (Stramonita brasiliensis) como indicadores de contaminação.
Intitulado “Chemical Contamination in Coastal Areas Alters Shape, Resistance and Composition of Carnivorous Gastropod Shells”, o estudo publicado no periódico Chemosphere e investigado em parceria com o Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF), desenvolve, a partir da coleta de organismos em diferentes áreas com diferentes níveis de contaminação, uma avaliação de diversos parâmetros relacionados às conchas dos moluscos. O objetivo central é verificar se tais alterações podem ou não ser uma indicativa de contaminação desses locais.
Os organismos analisados são coletados em três áreas: altamente contaminadas, moderadamente contaminadas e sob baixo nível de contaminação. A partir disto, são avaliados alguns parâmetros presentes na concha desses animais. Um dos autores da pesquisa, Ítalo B. Castro, professor adjunto da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), explica que o primeiro dos aspectos observados é a forma, “uma vez que as conchas de áreas mais contaminadas apresentam tamanho da abertura e comprimento da espira diferente das conchas de áreas limpas. Além deste aspecto, também analisamos outros parâmetros relacionados à estrutura e à composição dessas conchas”, explicou.
Para realizar uma investigação a nível de matéria orgânica, foi aplicada, através da parceria com os pesquisadores do CDMF, Elson Longo e Josiane C. Souza, uma análise termogravimetria (TGV). O intuito foi verificar se as conchas localizadas em áreas diferentes, portanto sujeitas a diferentes níveis de contaminação, tinham variações no seu conteúdo de matéria orgânica, e foi verificado que sim. Outro método de pesquisa utilizado foi a ressonância paramagnética, a técnica possibilitou entender se o percentual dos minerais que formam a concha, como a aragonita e a calcita, diferem entre os pontos com diferentes tipos de contaminação.
A conclusão do estudo, por sua vez, apontou que as conchas de áreas menos contaminadas apresentam forma, perfil termogravimétrico e também uma composição dos minerais aragonita e calcita diferentes daquelas que vieram de áreas mais contaminadas. Castro conta que além da investigação referente à composição inorgânica das conchas, avaliar a matéria orgânica que a constitui, como proteínas e outros peptídeos, está entre os próximos passos da pesquisa. “Desejamos avaliar no futuro se a composição proteica varia assim como observamos a alteração na composição inorgânica, para a análise usaremos ferramentas proteômicas”, acrescentou.
O artigo publicado é parte do estudo desenvolvido por Nayara Gouveia em seu doutorado, sob supervisão de Castro, no Programa de Pós-graduação em Bioprodutos e Bioprocessos da Universidade Federal de São Paulo, campus Baixada Santista (PPG-Biopro – UNIFESP). Além de Gouveia, Longo, Souza e Castro, também colaboraram com o trabalho os pesquisadores Ana Julya L. A. Oliveira, Cyntia Ayumi Yokota Harayashiki, Nilo F. Cano, Heloisa França Maltez, Rafael André Lourenço e Klinton V. Turpo-Huahuasoncco. A pesquisa foi financiada pela FAPESP.
CDMF
O CDMF, sediado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e recebe também investimento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a partir do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Materiais em Nanotecnologia (INCTMN).