Um sensor criado por pesquisadores do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) pode ajudar a evitar mortes por inalação de monóxido de carbono (CO), como pode ter ocorrido com o casal de São Carlos encontrado sem vida dentro de um carro ligado e estacionado em um posto de combustível às margens da Rodovia Régis Bittencourt, na altura de Cajati (SP), no domingo, 28 de abril. De acordo com a TV Tribuna, a principal suspeita é que Renato Dias De Oliveira, de 33 anos, e Bianca Alves Francisco de Oliveira, de 28, tenham morrido intoxicados pelo gás.
Apresentado em maio de 2019, no Simpósio de Pesquisa e Inovação em Materiais Funcionais, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), o dispositivo consiste em um circuito integrado, do tamanho de um chip, com um sensor eletrônico de CO e outro de metano. Os sensores são compostos por óxidos semicondutores, como de cério, em escala nanométrica (da bilionésima parte do metro). Em contato com o CO e outros gases, esses óxidos apresentam uma mudança de resistência, que é processada e interpretada pelo circuito eletrônico como um sinal para interromper o fluxo de gás no equipamento em que o sistema está instalado, como um aquecedor de água.
O dispositivo foi desenvolvido no CDMF com a participação de pesquisadores da UFSCar e das universidades Estadual Paulista (Unesp), de Mar del Plata (Argentina), Jaime I (Espanha), e de Ferrara (Itália).
“O monóxido de carbono é produzido pela combustão incompleta do gás natural devido à falta de oxigênio no ambiente. Por isso, ao detectar a presença de CO acima do limite de segurança, o sensor corta o fluxo de gás natural para o queimador”, explica Miguel Adolfo Ponce, professor da Universidade de Mar del Plata e um dos idealizadores do projeto.
Com base nessa tecnologia, os pesquisadores desenvolveram outro tipo de sensor que pode ser acoplado a um smartphone e é capaz de detectar e indicar a presença de CO não só pela mudança da resistência elétrica, mas também pela cor, e indicar o perigo por meio de um aplicativo.
Riscos
De acordo com o pesquisador, a exposição a uma concentração de 0,02 partes por milhão (ppm) de CO não causa efeitos nocivos à saúde. Acima desse nível, começa a causar sintomas perceptíveis, como sonolência e dor de cabeça. A exposição a 1.400 ppm de CO por uma hora é capaz de levar à morte. “O monóxido de carbono (CO) é particularmente perigoso porque é inodor, incolor e a tal ponto de provocar danos permanentes ao organismo em função do estado de saúde e do tempo de exposição”, explica Elson Longo, diretor do CDMF.
CDMF
Com sede na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e dirigido pelo Prof. Dr. Elson Longo, o CDMF é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e recebe também investimento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a partir do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Materiais em Nanotecnologia (INCTMN).