Físico que foi professor titular do IQ teve seu nome atribuído à Fatec de Araraquara
“Ele foi um físico excelente, sempre com ideias muito modernas. Ele era um futurista e nos deixou um legado muito importante”. Essas palavras são do químico Elson Longo, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), ao comentar sobre José Arana Varela (in memorian), ex-professor titular do Instituto de Química (IQ) da Unesp. Neste mês, ele teve seu nome atribuído à Faculdade de Tecnologia (Fatec) de Araraquara, unidade de ensino superior tecnológico do Centro Paula Souza, após a promulgação da Lei 17.501 pelo Governador João Doria.
Amigos desde os 12 anos, quando ainda estudavam em Presidente Prudente, no Instituto de Educação Fernando Costa, Varela e Longo construíram uma admirável parceria científica que rendeu cerca de 450 artigos publicados em conjunto. A relação entre os dois pesquisadores, no entanto, não se limitou apenas ao âmbito acadêmico. “Além de parceiros de pesquisa, éramos super próximos. Ele foi meu padrinho de casamento e eu fui o dele. Ainda quando estávamos no exterior, nos falávamos toda semana e, após voltarmos ao Brasil, o contato era diário. Era como um irmão pra mim”, conta o docente da UFSCar, que também atuou por anos como professor orientador do Programa de Pós-Graduação do IQ.
O cientista lembra que o primeiro trabalho que publicou em conjunto com Varela foi da área de mecânica quântica, um assunto que, segundo ele, era completamente diferente para aquela época. Outro estudo original desenvolvido pela dupla foi o que resultou na construção do primeiro varistor (componente eletrônico) do mundo feito com óxido de estanho. “Nós também trabalhamos juntos na White Martins, na Companhia Siderúrgica Nacional, na 3M e em várias empresas em um período no qual ainda não se levava muito em conta a importância da interação universidade-indústria. Demos esse passo de forma pioneira”, revela Longo.
O professor da UFSCar ressalta que a contribuição de Varela para a ciência é extremamente relevante e muitos dos resultados obtidos durante a carreira se deram pela postura do ex-docente do IQ quando o assunto era o desenvolvimento de pesquisas: “Ele falava muito que nós tínhamos que fazer pesquisa básica, que é fundamental para a ciência evoluir, mas que precisávamos transformar essas ideias em produtos, em materiais que se vendam e que contribua para o progresso da sociedade. Ele batia muito nessa tecla, de gerar novos valores, empregos e novas perspectivas para o Brasil”, finaliza.
O primeiro tutor – Quem também tem ótimas recordações de Varela é o professor do IQ Celso Santilli. O docente, formado em engenharia de materiais pela UFSCar, desenvolveu seu trabalho de conclusão de curso no Instituto de Química da Unesp, sob orientação de Varela, que conseguiu uma bolsa da Fapesp para a realização do TCC: “O projeto tinha como objetivo construir um forno que atingisse 1500°C, algo que não era muito trivial à época. Fiz todo o refratário, isolamento térmico e outras partes do forno no laboratório, contando também com a ajuda do professor Mario Cilense. Varela era uma pessoa extremamente positiva, sempre via o lado bom das coisas e motivava muito seus alunos”, conta Santilli.
Alguns anos mais tarde, após concluir seu doutorado na França, o docente do IQ retornou ao Brasil e foi contratado pelo Instituto. Ainda no início de sua carreira como professor universitário, ele contou com um “empurrãozinho” de Varela para começar a orientar os primeiros estudantes. “Fazia dois anos que eu estava no IQ quando ele foi para o exterior. Foi quando ele pediu para eu ajudá-lo a orientar os alunos que ele tinha e me deu total liberdade para trabalhar com os mestrandos, seguindo as diretrizes que ele havia deixado. Essa experiência, de certa forma, me ajudou muito no aprendizado de como orientar as pessoas”, revela.
Além da contribuição para o crescimento de muitos profissionais e dos avanços científicos conquistados, Santilli destacou a importância de Varela para a estruturação e consolidação do próprio IQ. “Ele teve uma participação muito importante na expansão de nosso parque de equipamentos, com certeza foi uma revolução. Ele trouxe grandes projetos, melhorou nossa infraestrutura e, sem dúvida, pelo menos na área de físico-química, acredito que o IQ pode ser dividido em duas fases: uma antes do Varela e outra depois dele. Foi um grande catalisador de recursos”, afirma.
Sobre Varela – Nascido em Martinópolis (SP), em 11 de abril de 1944, Varela formou-se em Física pela USP, com mestrado em Física pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e doutorado em Ciência de Materiais pela University of Washington. Ele foi o primeiro docente da Unesp a assumir o cargo de diretor-presidente do CTA da FAPESP. Foi também membro do Conselho Superior da Fundação de 2004 a 2010 e seu vice-presidente de 2007 a 2010. O cientista ainda presidiu a Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais, fundou e dirigiu a Agência Unesp de Inovação (AUIN) e foi coordenador em Inovação do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) da FAPESP.
Varela também foi membro do Conselho Superior de Inovação e Competitividade da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), da Sociedade Brasileira de Física (SBF), da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (ACIESP) e da Academia Brasileira de Ciências (ABC). O professor também era membro da World Academy of Ceramics, da American Ceramic Society, do Conselho de Curadores da Ceramic and Glass Industry Foundation e da Materials Research Society.