A atividade terapêutica de compostos quirais é fortemente dependente de seus rearranjos espaciais, que, por consequência, pode levar a diferentes propriedades farmacodinâmicas e farmacocinéticas. Considerando que somente um dos enantiômeros (moléculas quirais) pode produzir atividades terapêuticas desejadas, enquanto o seu par pode estar inativo ou até mesmo produzir efeitos tóxicos, uma alternativa para se contornar a formação dos compostos quirais é a separação pós-síntese.
A pesquisa desenvolvida no Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF), através do doutorado da pesquisadora Priscila Vedovello, vinculada ao Programa de Pós-graduação em Química da Universidade Federal de São Carlos (PPGQ – UFSCar), visa utilizar fontes alternativas para a produção de materiais funcionais, como o reaproveitamento da casca de arroz para a extração de sílica amorfa e a síntese de materiais mesoporos, com a finalidade de processar membranas híbridas poliméricas capazes de separar compostos quirais.
Neste contexto, foi realizada uma revisão da literatura dos últimos dez anos sobre membranas que atuam na separação quiral, a pesquisa desenvolvida resultou na publicação do trabalho de revisão intitulado “Chiral Polymeric Membranes: Recent Applications and Trends”, publicado recentemente no periódico Separation and Purification Technology.
Vedovello conta que materiais mesoporosos obtidos a partir da biomassa de casca de arroz foram avaliados quanto a sua capacidade de seleção quiral e, em sequência, foram incorporados à membrana polimérica, essa processada pelo método de inversão de fase, a fim de obter membranas porosas para filtração.
“A partir de ensaios com diferentes compostos enantioméricos, este estudo demonstrou que membranas contendo materiais mesoporosos ancorados com seletores quirais podem ser ferramentas eficazes para a separação de enantiômeros. Um dos atrativos desta técnica é o baixo custo que ela apresenta quando comparada a outras técnicas de purificação enantiomérica de medicamentos, podendo, inclusive, ser aplicada na terapia de doenças negligenciadas”, explicou a pesquisadora.
O artigo publicado também contou com a colaboração do pesquisador do CDMF, Caio M. Paranhos, e das professoras Maria Elizabeth Tiritan e Carla Fernandes, do Laboratório de Química Orgânica e Farmacêutica da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. A parceria com a universidade portuguesa, através do projeto de Bolsa Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE) intitulado “Aplicação de Membranas Poliméricas Enantiosseletivas Contendo Seletor Quiral Tipo-Pirkle como Fases Estacionárias Quirais para Cromatografia Líquida”, foi de grande relevância para a pesquisa pois possibilitou a realização de testes de seletividade das membranas poliméricas por meio da análise enantiosseletiva por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLEA/HPLC), que consiste na separação de compostos químicos com diferentes retenções, no qual a separação enantiosseletiva é realizada através de uma fase estacionária quiral (coluna cromatográfica quiral).
CDMF
O CDMF é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e recebe também investimento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a partir do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Materiais em Nanotecnologia (INCTMN).