Nanotecnologia brasileira aplicada a moldes de peças injetáveis gera economia e aumenta produtividade

Revestimento cerâmico nanométrico foi desenvolvido pela nChemi, empresa de base tecnológica de São Carlos

Por José Angelo Santilli

Um revestimento cerâmico em escala nanométrica para aplicação na superfície de moldes foi desenvolvido por uma equipe de pesquisadores da nChemi, empresa de base tecnológica de São Carlos. A nanotecnologia 100% nacional provoca um efeito desmoldante semipermanente para peças injetáveis com vantagens competitivas de economia, produtividade e sustentabilidade em relação aos desmoldantes convencionais.

Denominado Plenus Duty, o revestimento nanotecnológico para aplicações industriais apresenta como propriedades o aumento da dureza da superfície do metal em 90% e a diminuição do atrito em 50%, comprovado por análises técnicas realizadas pelo Senai. O produto tem sua principal aplicação em moldes de injeção plástica. Por ser um revestimento cerâmico ultrafino, menor que 0,1 micrômetro de espessura, o Plenus aumenta a resistência à abrasão e a vida útil dos moldes e pode ser aplicado em moldes de qualquer tamanho e mesmo em geometrias complexas com reentrâncias e detalhes finos.

O produto suporta milhares de ciclos de injeção até que seja necessário reaplicá-lo. No caso da moldagem de peças em poliamida carregada com fibra de vidro é possível obter até 4 mil ciclos de injeção antes que seja necessário reaplicar o desmoldante, enquanto para as peças de PP é possível chegar a até 10 mil ciclos, explica Bruno Lima, engenheiro de materiais com doutorado pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e co-fundador da nChemi.

No caso do PP, o principal ganho relacionado ao uso do desmoldante é evitar a adesão, que costuma ocorrer especialmente no caso de peças grandes como itens para portas de veículos. No caso da poliamida com fibra de vidro, por se tratar de material abrasivo, a principal vantagem é o aumento da vida útil do ferramental.

Há também ganho de produtividade e otimização das etapas de produção, com registro de redução do intervalo entre ciclos de injeção de um componente de 2,5 minutos para 30 segundos, de acordo com os pesquisadores.

Além de contribuir com a sustentabilidade evitando trocas frequentes de desmoldantes convencionais e perdas de peças, a nanotecnologia é de fácil aplicação. Com o uso de um compressor, o revestimento é aplicado por spray e, em seguida, recebe um sopro de ar quente, que finaliza a secagem e adesão.

A nChemi foi fundada em 2015 por pesquisadores apaixonados por ciência, inovação e empreendedorismo. Ela nasceu na Universidade Federal de São Carlos, uma spin-off do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF), dirigido por Elson Longo, Professor Titular Emérito da UFSCar. O CDMF é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e recebe também investimento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a partir do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Materiais em Nanotecnologia (INCTMN).

“Nossa especialidade é o desenvolvimento e aplicação de soluções baseadas em nanotecnologia para atender demandas industriais, além de fornecer nanopartículas funcionalizadas de alta qualidade para pesquisa acadêmica e privada”, explica Lucas Leite, co-fundador da nChemi.

Hoje a equipe nChemi é formada por mestres e doutores em áreas relacionadas com nanotecnologia, e também por administradores e especialistas em desenvolvimento de novos negócios. O desenvolvimento da nanotecnologia contou com o auxílio do Programa de Inovação em Pequenas Empresas (PIPE), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – Fapesp. Inicialmente foi concebida para aplicação em instrumentos cirúrgicos, visando ao aumento de sua vida útil. Depois surgiram outras aplicações industriais, tais como o revestimento de fresas e brocas e, agora, moldes para fabricação de produtos plásticos.

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