Pandemia inspira novas aplicações de materiais antimicrobianos

UFSCar

Artigos registram avanço do conhecimento na pandemia (capas sobre nanoarte de Aline Barrios Trench)

Pandemia inspira novas aplicações de materiais antimicrobianos

Mariana Pezzo – Publicado em 01-10-2021 12:25

O Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF), sediado na UFSCar, direcionou seus esforços ao enfrentamento do vírus Sars-CoV-2 desde os primeiros meses da pandemia de Covid-19, buscando a aplicação de tecnologias e do conhecimento acumulado nas últimas décadas no grupo que compõe o Centro. Já em abril de 2020, em parceria com a Nanox, empresa spin-off do CDMF, partículas a base de sílica e prata foram aplicadas ao polímero etil vinil acetato (que conhecemos como EVA) para a produção das máscaras reutilizáveis OTO, cujo material soma à filtragem do ar a ação virucida, bactericida e fungicida. Desde então, foi imensa a variedade de outras aplicações e, também, foi grande o avanço no conhecimento e no desenvolvimento tecnológico rumo a soluções cada vez mais eficientes e, também, versáteis e baratas.

Um conjunto de artigos publicados recentemente ilustra essa trajetória, além de evidenciar a posição de destaque ocupada pelo Centro nacional e internacionalmente.

O primeiro deles, intitulado “SiO2-Ag composite as a highly virucidal material: a roadmap that rapidly eliminates Sars-CoV-2”, foi publicado em março deste ano, no periódico Nanomaterials, e designado pela editora “Hot Paper” pelo alto número de visualizações. Nele, os autores apresentam justamente o material empregado na máscara Otto; reportam os resultados obtidos nos testes de atividade bactericida e, também, de eliminação do coronavírus; e compartilham análises sobre os mecanismos envolvidos na ação biocida, visando inclusive apoiar o desenvolvimento futuro de outros materiais de mesma natureza.

Em agosto, foi publicado no Journal of Polymer Research o artigo “PVC-SiO2-Ag composite as a powerful biocide and anti-Sars-CoV-2 material”, com foco em outra aplicação das mesmas partículas, em filmes plásticos flexíveis, de PVC, utilizados, por exemplo, como embalagem de alimentos. Neste caso, além da ação bactericida, virucida e fungicida, também foi comprovada a segurança no uso em contato direto com alimentos, bem como verificou-se um ganho adicional: o aumento no tempo de prateleira de produtos perecíveis, ou seja, maior intervalo até o alimento – no caso testado, frutas – estragar.

O terceiro artigo, recém-publicado (em 21 de setembro), tem o diferencial de trabalhar apenas com material semicondutor – fosfato de prata (Ag2PO4) – para a ação biocida, sem a prata na forma metálica. O trabalho, intitulado “Bioactive Ag3PO4/Polypropylene composites for inactivation of Sars-CoV-2 and Other important public health pathogens”, foi publicado no periódico Journal of Physical Chemistry B.

“O fosfato de prata é um semicondutor já bastante estudado no CDMF, e vimos comprovando que esses materiais, sozinhos, são muitas vezes mais eficientes que as partículas metálicas. Temos, portanto, buscado tanto partículas mais eficientes e com menor custo de produção, quanto seu uso em diferentes aplicações”, conta Marcelo Assis, pesquisador de pós-doutorado no CDMF que está entre os autores nos três artigos. Neste último, com o fosfato de prata, o compósito desenvolvido envolve o polímero polipropileno, muito utilizado no cotidiano em sacolas plásticas, cadeiras e embalagens rígidas reutilizáveis com tampa, dentre vários outros utensílios. Além de novas partículas e aplicações, os estudos buscam materiais com impacto cada vez menor no ambiente e no corpo humano.

Os resultados obtidos pelo CDMF no contexto da pandemia foram destacados também pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a quem o CDMF está vinculado, como um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) apoiados pela Fundação. Em seu último relatório anual, relativo a 2020, a Fapesp destacou as aplicações desenvolvidas em parceria entre o CDMF e a Nanox – como tecidos e filmes plásticos com as partículas que eliminam o Sars-CoV-2 por contato – e, também, as atividades de difusão realizadas em parceria com o Laboratório Aberto de Interatividade para a Disseminação do Conhecimento Científico e Tecnológico (LAbI), especialmente o podcast Quarentena, no ar ininterruptamente por 280 dias em 2020 e que, neste ano, segue sendo veiculado em edições semanais.

“Como não me canso de repetir, dada a importância desta mensagem, nada disso teria sido possível sem o investimento contínuo em Ciência básica e aplicada ao longo das últimas décadas. É este conhecimento acumulado e, muito especialmente, as pessoas formadas nesse processo, que permitiram a mobilização e rápida resposta no momento da emergência global”, registra Elson Longo, Diretor do CDMF. “Outro aspecto fundamental é que a Ciência é um trabalho em equipe, e aproveito a oportunidade para parabenizar e agradecer todas as pessoas envolvidas, do CDMF e de tantos parceiros”, complementa.

Além do CDMF e da Nanox, figuram como instituições de vínculo do conjunto de autores envolvidos nas três publicações outras unidades na própria UFSCar (Departamento de Química e Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia), além da Universitat Jaume I, na Espanha; da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Botucatu; e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

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O Laboratório Aberto de Interatividade para Disseminação do Conhecimento Científico e Tecnológico (LAbI), vinculado à Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), é voltado à prática da divulgação científica pautada na interatividade; nas relações entre Ciência, Arte e Tecnologia.