Pesquisadora do CDMF tira dúvidas sobre produtos químicos em matéria de site do UOL

Reportagem fala sobre produto de limpeza "milagroso"

A pesquisadora Lúcia Helena Mascaro, professora do Departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos (DQ – UFSCar) e integrante do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) foi entrevistada pelo site de tecnologia “Tilt”, pertencente ao UOL, para explicar algumas dúvidas sobre produtos químicos, em especial, sobre um produto de limpeza divulgado como “milagroso” nas redes sociais. A matéria é de autoria de Mirthyani Bezerra. Confira.

Como este produto “mágico” tira crosta de gordura da panela sem esforço?

Já imaginou se existisse um produto que, como num passe de mágica, fizesse toda a crosta de gordura da sua panela ir pelo ralo em questão de segundos? Um vídeo que viralizou no Twitter mostrou este “milagre da limpeza” acontecendo com o tal produto misterioso, mas a história não é bem assim. Na postagem, uma pessoa lança um jato de espuma sobre uma frigideira toda preta e, em segundos, a água tira toda a camada de gordura deixando a superfície de metal reluzente. Na sequência, a mesma coisa acontece com uma pia completamente engordurada.

Até a publicação desta notícia, o vídeo já tinha mais de 140 mil curtidas. Nas respostas ao vídeo, o usuário ainda postou um link da Amazon onde se é possível adquirir o produto por 4,98 euros (o equivalente a R$ 22).

Em uma rápida busca no Google é possível encontrar uma infinidade de produtos prometendo o mesmo milagre. As páginas, no entanto, não trazem maiores informações sobre a composição química do produto. Algumas se limitam a dizer que o material é composto por água iônica, surfactantes e auxiliares —o que não explica muita coisa, já que qualquer detergente, inclusive aquele que está na pia da sua cozinha, tem essa composição. Para Lúcia Mascaro, professora do departamento de química da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), o segredo da instantaneidade do produto (se é que ela existe de fato) pode estar justamente nesses “auxiliares”.

“A diferença entre o detergente comum que nós temos na nossa cozinha e materiais como esses é essa parte dos auxiliares, os aditivos. Água iônica e surfactantes estão em todo e qualquer sabão e detergente”, explica. Ela diz que, sem a composição química do produto, não dá para saber como ele de fato age, mas dá um palpite. Segundo ela, o vídeo mostra um spray e se tem spray há um gás —o mais comum nesses casos é o butano— que serve para colocar pressão sobre o material que está sendo expelido.

“Pela forma como essa espuma se forma, um desses aditivos poderia ser algum peróxido, que tem uma ação como aquele oxigênio ativo que tem nos branqueadores de roupas. O que ele faz? O gás gera oxigênio. O oxigênio gera as bolhas que, fisicamente, fazem com que o gás penetre [na gordura] e ajude para que ela se destaque da panela”, explica.

Após a ação física, é hora da água iônica e dos surfactantes trabalharem como qualquer detergente comum. “Os detergentes têm uma cadeia que possui uma parte polar e a outra apolar. A parte apolar dissolve a gordura e a parte polar, que é a água, carrega essa gordura dissolvida”, diz Mascaro.

Cuidado com o conto do vigário

Para Antonio Carlos Pavão, professor titular do departamento de química fundamental da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), a falta de informação sobre a composição química exata do produto nos sites de venda pode ser uma estratégia para enganar o consumidor.

“A informação ‘água iônica, surfactante e auxiliares’ não tem qualquer significado do ponto de vista químico, mas parece ter sido colocada para enganar as pessoas com termos característicos de química, uma estratégia comum em propagandas enganosas”, diz.

Ele ainda destaca o fato de que na página o fabricante informa que o produto é 100% não tóxico. “Há pelo menos uma informação que devemos desconfiar: ‘100% não tóxico’. Isso não existe. Todo produto de limpeza apresenta algum nível de ‘toxicidade’, aqui entendido como apresentando algum risco à saúde”, afirma, exemplificando que há muitas pessoas que têm alergia a detergente de cozinha e que precisam manuseá-lo com luvas.

Mascaro acredita que um produto como esse deve ter produtos químicos mais concentrados para conseguir dissolver a gordura com tamanha facilidade. Se de fato o produto tem essa capacidade, segundo ela, é certeza que pode causar irritações na pele se houver um contato prolongado.

“Cada pessoa pode responder de maneira diferente. Tem pessoas que são bastante alérgicas a esses produtos. Mas sempre tem que se tomar cuidado, principalmente porque não está especificado quais são esses aditivos”, diz.

Tanto Mascaro como Pavão afirmam que o consumidor deve ficar atento e usar produtos que digam no seu rótulo a sua composição exata, assim como os cuidados para o manuseio.

“Caso haja um problema, o consumidor tem que ir em busca de tratamento adequado e vai precisar dar essas informações ao médico”, afirma a professora da UFSCar.

A reportagem original está disponível AQUI

Sobre LAbI UFSCar 2838 Artigos
O Laboratório Aberto de Interatividade para Disseminação do Conhecimento Científico e Tecnológico (LAbI), vinculado à Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), é voltado à prática da divulgação científica pautada na interatividade; nas relações entre Ciência, Arte e Tecnologia.