Cooperação internacional do CDMF com a Argentina completa 15 anos

Trabalhos com sensores de gases tóxicos têm sido destaque da parceria

Dois seminários realizados na sede do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) neste mês de fevereiro marcaram os 15 anos do projeto de cooperação internacional fruto de uma parceria entre o CDMF e a Universidade Nacional de Mar del Plata (UNMDP), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet, da Argentina).

O primeiro seminário foi apresentado pela pesquisadora argentina Mariela Desimone, da Universidade Nacional de Mar del Plata, sobre o tema “Qué nos dice la ley de potencia sobre las reacciones superficiales del SnO2 involucradas en el sensado de gases reductores?”. Os sensores de gás baseados em semicondutores óxidos metálicos policristalinos (MOXs) são uma importante aplicação da moderna nanotecnologia para a indústria, o meio ambiente e a saúde. Esses semicondutores são o material inorgânico mais comumente utilizados em sensores químicos que envolvam processos físico-químicos complexos.

Vídeo: Pesquisadoras argentinas comentam a visita ao CDMF em fevereiro de 2023: https://youtu.be/9Nbh4d7Jr6s

Já o pesquisador Luis Ignacio Granone, também argentino e da mesma universidade, apresentou o seminário “Espectroscopia de Ressonância Paramagnética Eletrônica: Fundamentos e Aplicação em Química de Materiais”. Durante sua apresentação, Granone abordou a espectroscopia EPR enquanto uma ferramenta específica mas fundamental que oferece uma grande versatilidade como técnica de caracterização em química de materiais.

O trabalho internacional conjunto teve início em 2004 com a pesquisadora Miriam Castro, do Instituto de Investigaciones en Ciencia y Tecnología de Materiales (Intema Ceramics), investigando a área de cerâmica eletrônica, mais especificamente varistores para pára-raios. Em seguida, a relação foi enriquecida com a contribuição dos pesquisadores Celso Aldao e Miguel Ponce no desenvolvimento de pesquisas para a obtenção de diversos materiais eletrocerâmicos para aplicação no sistema de segurança de aparelhos a gás.

Altamente tóxico, o gás monóxido de carbono (CO) é incolor (sem cor) e inodoro (sem cheiro), por isso é de difícil detecção no ambiente e, se inalado por longos períodos, pode levar à morte. Em média, 250 pessoas morrem anualmente por envenenamento por monóxido de carbono na Argentina, sendo o gás mais letal em número de acidentes na Argentina. Para evitar mais intoxicações por esse gás, as equipes lideradas por Miguel Ponce (Intema), Celso Aldao (Instituto de Investigaciones Científicas y Tecnológicas en Electrónica – Icyte) e pelo técnico Fernando Trabadelo (Intema) desenvolveu um protótipo de sensor de gás CO em 2004, que foi posteriormente aprimorado até ser patenteado.

“Desenvolvemos e patenteamos em 2012 um dispositivo capaz de detectar o acúmulo excessivo de diversos gases tóxicos e explosivos, atuando imediatamente no corte do gás combustível. Em colaboração com o CDMF, as propriedades dos materiais utilizados no desenvolvimento de 2012 foram melhoradas, outros materiais e sistemas relacionados foram patenteados. Existem projetos de miniaturização dos aparelhos”, lembra Ponce.

As pesquisas com sensores evoluíram e seus bons resultados foram publicados em revistas científicas internacionais da área, incorporando mestrandos e doutorandos ao grupo de trabalho, realizando intercâmbio entre as duas universidades. Atualmente Intema, Icyte, Cificen (Centro de Investigaciones en Física e Ingeniería del Centro de la Provincia de Buenos Aires) e Ifimar (Instituto de Investigaciones Físicas de Mar del Plata) recebem anualmente professores, pesquisadores, estudantes visitantes do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) como resultado desta longa colaboração. O projeto tem a participação de pesquisadores da UFSCar e das universidades Estadual Paulista (Unesp, campus de Guaratinguetá), de Mar del Plata (na Argentina), Jaime I (na Espanha), e de Ferrara (na Itália).

O diretor do CDMF, Elson Longo, enfatiza que “os países mais avançados estão colocando bilhões de dólares em pesquisa de semicondutores, principalmente sensores e chips para computadores”.

Legislação

O trabalho também repercutiu no Congresso Nacional da Argentina. Os deputados Eduardo Bucca e Fernanda Raverta, em carta enviada a dirigentes brasileiros, manifestaram apoio às atividades de pesquisa e desenvolvimento no âmbito do CDMF destinadas a resolver o problema de intoxicações provocadas pelo gás monóxido de carbono e agradeceram pelo apoio da Fapesp.

Devido ao grande número de pessoas acidentadas e mortas por gases, o deputado argentino Eduardo Bucca apresentou um projeto de lei que obriga a utilização deste sensor desenvolvido pelo CDMF.  “Tendo em conta a importância que isso acarreta para o nosso país, é que apresentamos um Projeto de Lei na Honorável Câmara dos Deputados, com a finalidade de declarar de interesse público nacional a prevenção de intoxicações por monóxido de carbono, solicitando a readequação das Normas Argentinas de Gás para incluir, de maneira obrigatória, esse dispositivo sensor em todos os aparelhos a gás para uso domiciliar”, declarou o parlamentar argentino.

Este projeto foi replicado no senado provincial e atualmente existem outras portarias em nível local, como exemplifica reportagem publicada na semana passada sobre a aprovação pela Comissão de Legislação do projeto que exige a colocação de detectores de monóxido de carbono nas residências:

Equipes

Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais CDMF/Papesp/: Diretor Dr. Elson Longo. Dr. Miguel San Miguel; Dr. Juan Andrés, da Universidade Jaume I; Dr Marcelo Assis; Dr. Renan Gebara; Dra. Cinthia Abreu; Dra. Amanda Gouveia; Dr Leandro Rocha; Dra. Josiane Souza; MSc Katiana Patrocínio; Mestre Lara Kelly Ribeiro; Mestre Henrique Moreno; Guilherme Cruvinel; Laura Líbero; Giovanna Grasser; Giovanni Mandarino; Gabriel Yamakawa; Mayra Rodrigues; Victor Makiyama; Matheus Cipriano; Isabelle Leão; Ana Clara Bernardo, Dr. João Paulo Campos Da Costa; Dr Adenilson Chiquito.

Instituições da Argentina: Drs. Miguel Ponce, Mariela Desimone, Miriam Castro, Técnicos (CPA) Nicolas Tibaldi, Fernando Trabadelo (INTEMA). Drs. Celso Aldao, Camila Buono, Daniel Mirabella (ICYTE). Eng. Giuliana Giulietti (UNMDP). Drs. Alberto Somoza, Carlos Macchi (CIFICEN/Tandil). Drs. Sandra Churio, Luis Granonne (IFIMAR).

CDMF

O CDMF é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e recebe também investimento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a partir do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Materiais em Nanotecnologia (INCTMN).

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O Laboratório Aberto de Interatividade para Disseminação do Conhecimento Científico e Tecnológico (LAbI), vinculado à Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), é voltado à prática da divulgação científica pautada na interatividade; nas relações entre Ciência, Arte e Tecnologia.