Desde os primeiros anos da década de 2000, quando o Laboratório de Difusão Científica (LaDiC) surgiu no CCMC, os pesquisadores dedicam-se à formação de recursos humanos capacitados para o desenvolvimento e aplicação de mini-cursos com temáticas científicas. No ano de 2014, mais uma vez o LaDiC/CCMC atuou neste sentido, levando à escola pública da educação básica de São Carlos, “Álvaro Guião” um mini-curso intitulado “Luz e Espelhos”, desenvolvido e ministrado pela ex-aluna de Iniciação Científica do LaDiC, Amina Solano Lopes Ribeiro.
Durante o período que estagiou no LaDiC, sob orientação do Prof. Antonio Carlos Hernandes e da Professora Ariane Baffa Lourenço, Amina foi motivada pelo trabalho de difundir os conhecimentos que já havia aprendido sobre “Óptica” na graduação. Foi assim que se exercitou para a difusão científica atuando de maneira didática com estudantes de Ensino Médio.
Compreendendo a importância de aproximar o que se aprende e desenvolve nas Universidades públicas e seus grandes Institutos de Pesquisa, como no caso do IFSC, a aluna atuou na Difusão Científica em uma das ações do LaDiC, ampliando seu repertório pessoal de comunicação científica para o público em geral. Acompanhe como esta experiência colaborou para formação da ex-aluna, que colará grau no final deste ano no IFSC/USP.
Amina e sua trajetória como pesquisadora
Amina é aluna do último ano do curso Bacharelado em Física do IFSC/USP, com habilitação Teórico-Experimental e está a apenas 3 matérias para a conclusão do curso, estudando para a admissão na pós-graduação em Física, no próximo ano. Durante sua graduação, a aluna atuou em diferentes áreas de pesquisa: “Tive a oportunidade de fazer 3 iniciações científicas, uma realizada na UFSCar, trabalhando com nitretação a plasma de aços inoxidáveis visando o estudo das propriedades tribológicas da camada superficial formada após o processo de nitretação, sob orientação da Profa. Dra. Maristela Olzon, posteriormente trabalhei em 2013 com o Prof. Dr. Zanatta, realizando medidas de condutividade elétrica em materiais semicondutores e por último fiz iniciação no LaDiC.”
A motivação para atuar na Difusão Científica
Segundo a pesquisadora, sua motivação para atuar no LaDiC em temas de Difusão Científica veio com a leitura do edital de bolsas para a temática “Nanociência e Nanotecnologia” do CCMC, aberto em 2013 para a seleção de bolsistas. Algum tempo depois, em 2014, foi convidada pela equipe do LaDiC para atuar em um novo projeto, que envolvia o desenvolvimento de um minicurso cujo tema seria Óptica: “Fiquei imensamente feliz e aceitei trabalhar divulgando um tema que já estava mais familiarizada por já ter cursado esta matéria na graduação, aprendendo a expor os conceitos que seriam abordados, além de ter a chance de aprender mais sobre uma ferramenta utilizada no meu trabalho para estudar e avaliar o processo de ensino-aprendizagem do tema de Óptica com os alunos do Ensino Médio, que foram os mapas conceituais.”
Colocando a mão na massa – a preparação do mini-curso
Sob orientação da Professora Ariane Baffa Lourenço e colaboração do pesquisador de pós-doc do CCMC à época, Prof. Jorge Rueda Parada, coordenador do Grupo de Óptica Moderna da Universidade de Pamplona, Colômbia, Amina deu os primeiros passos no aprendizado da divulgação científica – o mini-curso começava a se delinear: “Meu trabalho consistiu em desenvolver um minicurso sobre Luz e Espelhos, implementá-lo em escolas da rede pública da cidade de São Carlos. O minicurso abordou conceitos que envolviam a luz como refração, reflexão, formação de imagens em espelhos esféricos, etc. Ao final da apresentação do mini-curso os alunos elaboraram mapas conceituais em grupo e analisamos a potencialidade desta ferramenta para a promoção da argumentação. Para isso usamos o modelo de Toulmin, o qual apresenta a estrutura básica de um argumento.”
A importância da Difusão Científica na visão de Amina segundo sua experiência no LaDiC
A experiência de Amina, mostrou a ela o quanto intervenções como as que teve na escola pública podem fazer a diferença na assimilação de conteúdos que os alunos já têm nos currículos escolares – o aprendizado pode ficar mais atrativo quando foge do modelo tradicional e a equipe docente da escola pode contar com pesquisadores das universidades para esta parceria: “O fato de aplicar o minicurso abordando um tema o qual os alunos tem acesso durante o Ensino Médio, enfatizando aplicações do estudo de Óptica é de extrema importância no processo de ensino-aprendizagem, pois fornece aos alunos uma visão maior de um tema em específico, fazendo com que o aluno possa entender o motivo de estudar algumas matérias na escola, além de ampliar o arsenal de informações de si próprio, tornando-se um aluno mais consciente de algumas experiências que ocorrem cotidianamente em sua vida, podendo assim exercer cidadania em última instância, corroborando para a educação pública.
Creio que este projeto me permitiu ter maior discernimento de como a escola está organizada e inserida na sociedade, podendo atuar, nem que seja durante a implementação do minicurso, e contribuir com uma parcela de tempo em prol do que engloba a educação, aumentando o acesso a estes temas e aprendendo como uma pesquisa nesta área está organizada.”
A experiência no LaDiC para a formação de Amina
Amina explicou como o período em que esteve no LaDiC abriu sua visão para a importância e o ato de cidadania de todo pesquisador estar preparado para levar ao público não acadêmico sua experiência e seu trabalho: “Graças ao LaDiC e pessoas que conheci durante o estágio, hoje valorizo mais a conexão que deve existir entre o que é desenvolvido nas universidades e apresentado/divulgado para a sociedade, os trabalhos que são feitos academicamente muitas vezes nem chegam ao ambiente escolar, ou quando chegam, invariavelmente não são recebidos pelo público com o devido valor que o conhecimento carrega em si e suas implicações. Meu trabalho avaliou em segunda instância, o respaldo dos alunos perante o tema abordado durante o mini-curso, o que realmente eles absorveram do que foi apresentado em sala de aula, que tipo de conexão universidade-sociedade foi estabelecida após o trabalho, um dos objetivos do LaDiC.”
A deficiência da Divulgação Científica no Brasil na visão de Amina
Amina teceu algumas observações a respeito da importância da Difusão Científica ser uma cultura, uma prática a ser adotada, ressaltando o que deve melhorar: “Uma deficiência da divulgação científica esta em como transmitir o saber científico. Muitas vezes distorcemos a maneira que uma tecnologia é criada para que essa informação seja mais acessível ao público devido à complexidade de conceitos envolvidos no tema, não familiares a comunidade não acadêmica. Um exemplo básico disso, é o fato de todos termos celular do tipo Android e a maioria da população não saber como funciona, que tipo de material foi utilizado para sua construção. Por que, por exemplo, estes celulares descarregam com maior rapidez em comparação com os modelos mais antigos (não Androids)? isso é saber científico, e está relacionado com o fato do material utilizado para sua fabricação, no caso semicondutor, conseguir aglomerar muito mais memória e sintetizar informação do que antes, no entanto tudo tem um preço, por sintetizar mais informação, o aparelho consome mais energia, o que nos faz ter de carrega-lo com maior frequência do que os “tijolos” disponíveis há 10/15 anos atrás. O LaDiC atua justamente nesta esfera da divulgação científica, aprimorando a metodologia de transmissão de um conhecimento que deve ser ofertado a fora da academia, a maneira em que o minicurso é construído é o diferencial em termos de como passar o saber científico e como caracterizá-lo, pois por exemplo, a escrita científica é única, a maneira de organizar e estruturar as ideias cientificamente é única também, e o LaDiC mantêm fielmente tal estrutura.”
Produtos gerados durante a pesquisa no LaDiC
Amina relembrou, satisfeita, finalizando nossa entrevista: “Eu amadureci muito durante a apresentação do minicurso como pessoa, como pesquisadora, como uma pessoa que tem atitude de ensinar outras pessoas e direcioná-las numa linha de raciocínio mais consistente com a literatura. Tive a alegria de participar de um congresso internacional, a 6° Conferência Internacional de Mapas Conceituais (CMC 2014), realizado em Santos – SP, ocorrido em 23 – 25 de setembro de 2014, com o qual pude ter contato com outros pesquisadores, praticar e refinar meu inglês, uma vez que a linguagem científica não é nada coloquial, saber como os mapas conceituais são trabalhados por outros grupos de pesquisa, ter maior embasamento teórico dos mapas conceituais como consequência das palestras que haviam no congresso, dentre outras inúmeras consequências construtivas na minha carreira profissional e pessoal.”